Caboclo, o N´kise brasileiro


Cheia de forças e questionamentos, essa frase nos traz um convite ao aprofundamento no que diz respeito à consolidação do culto afro-brasileiro. Mais cultuados na Umbanda e na nação de Candomblé de Angola, os caboclos trazem um apanhado de saberes que, em períodos escravocratas, preencheram as lacunas de conhecimento que, em África, foram preenchidas por divindades como Katendê, Nanã, Mutakalambô, Omolú, Oxóssi, Ossain, Oro, entre outros.

Em África, a divindade, para além da função litúrgica, trazia também o conhecimento local, onde o seu culto é efetuado, vista a importância do espaço físico e do poder que este desempenha para as comunidades. Tendo isso em vista, no processo da escravidão, os povos africanos se viram desassistidos desse conhecimento. Afinal, não estavam mais no mesmo local de culto e, nesse momento, a figura indígena aparece como tábua de salvação para essa demanda. Não podemos desconsiderar que, antes da chegada dos povos africanos, já havia povos e cosmovisões em terras tupiniquins. Ora, Oxóssi é o rei das matas na Nigéria. Jaci e Omani ocupam esse lugar no Brasil.

Munido do conhecimento de ervas minerais da própria geografia do local, o conhecimento dos ancestrais indígenas patrocinou a reestruturação do culto no Brasil. No documentário Canto Caboclos, disponibilizado no Youtube, do diretor Bruno Saphira, podemos observar a importância do caboclo para as comunidades de terreiro, assim como o processo de aquilombamento dos negros escravizados. Para além das falas dos adeptos, podemos também perceber essa divinização em expressões como “Candomblé de Caboclo” ou em cantigas:
Caboclo, guerreiro, tu és a nação do Brasil. Tu és a nação brasileira, Caboclo, nas cores da nossa bandeira. O verde é esperança, o amarelo o desespero. Azul e branco, paz e saudade do povo brasileiro. Carregada de significado e de memórias associadas ao legado, ao sofrimento e à identidade.

Junior Amaral ( @ingratiluz) é biólogo e bruxo tradicional com 18 anos de prática. Foi iniciado no Voodoo em 2012 e no Candomblé para o orixá Logun Edé em 2022. Além disso, é sacerdote do Clã Makaya.

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